quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vôo Livre

 

Vôo Livre


Um dia em seu futuro, quando forças ocultas, porém atuantes, estiverem em conjunção... Um dia em seu futuro quando certos fatos forem propícios... Sim! Nesse dia um dia igual a qualquer outro, exceto pela experiência impar que relato através destas linhas, você encontrará então respostas para o incrível.

Imagine agora que esse dia chegou, e então tente lembrar-se de tudo o que nele ocorreu, das coisas que sentiu, que experimentou e de tudo o que significou e significará para você futuramente. Sim, você lembrara-se de tudo! E lembrará também de quando você foi acordada mansamente do seu sono pela presença de uma estranha luz radiante em sua vida... A luz do Sol!

Sim... Apenas a luz do Sol de um dia qualquer, mas que neste dia em especial, torna-se de uma beleza sem par. Atingindo uma grande gama de cores. Cores lindas, nunca vistas antes por olhos não preparados... Mas os seus o eram agora! Maravilhada você levantou-se agilmente e extasiada aproxima-se da janela, e debruçada nela você vê... Vê o mundo!

Vê um novo mundo que se espraia aos seus novos olhos, tudo, tudo está diferente... Tudo mais nítido! Novas cores e novos sons chegam aos seus sentidos. No ar matinal o cheiro misto de diversas espécies de vegetação insinua-se sutilmente no seu cérebro...

Você está apaixonada! Apaixonada pela vida que se apresenta assim retratada tão vibrante e resplandecente. Lentamente você fecha os olhos e põem-se a ouvir o bom dia expresso pelo chilrar dos pardais nas copas das árvores e acompanhados pelo brado de alegria de seus filhotes nos ninhos ao ganharem sua primeira minhoca matinal... E pela primeira vez você presta atenção no bater de asas dos pombos que em bando cruzam os ares, e até o som das buzinas dos carros parados nos sinais lhe chegam como se fossem rítimos insólitos de alguma música de vanguarda...

 Lembra-se de quando você se virou e olhou para cama? É... Você constatou que estava só e por instantes cruéis seu coração apertou-se e o canto de sua boca em conjunto curvou-se em dor quase a tirando do êxtase em que se encontrava. Mas em tempo você lembrou que esta solidão era apenas temporária, conseqüência de fatos naturais tão banais e que dentro em breve quem sabe neste mesmo dia tudo iria se resolver?

Bem! O que fazer agora?

Você tem a sua disposição um dia tão maravilhoso todinho seu e nenhum compromisso a não ser vive-lo! Você decidiu acordar de vez, enrolou-se numa toalha e se dirigiu ao banho. Ao primeiro contato da água fria, seu corpo estremeceu, seus músculos contraíram-se para em seguida relaxarem ao contato de suas mãos a massagea-los suavemente com a espuma cremosa de um sabonete. A água fria, aos poucos foi levando ralo a baixo os restos de um sono agonizante.
 A cada gota que lhe escorria pelo corpo, você sentia energias acumularem-se quer por osmose ou não, penetravam em suas veias incumbidas de levarem consciência a cada célula ainda dormente...

Agora completamente revigorada e desperta, você enxuga-se frente ao espelho e ao pentear-se você nota, que até você está diferente hoje! A sua fisionomia está serena, o seu sorriso mais terno e um brilho fulgura diferente nos seus olhos, você estão concorda consigo mesma: “Hoje é um dia diferente!”.

Ao sair do banho você se sente flutuando, como se realmente os seus pés não tocassem o chão, você desloca-se suavemente empurrada por uma brisa que passeia no seu corpo... Novamente em seu quarto, despe-se da toalha e repara espantada que ela lhe parece uma âncora, sólida demais a aprisioná-la ilogicamente a conceitos puritanos hoje em especial inconcebíveis!

... Hoje sozinha em seu quarto, nua, nua realmente pela primeira vez. Você se descobre, aprecia-se e experimenta uma sensação de liberdade e comunhão com o seu redor, você deixa o corpo livre reagir a todos os estímulos externos, sente uma paz sublime invadir-lhe o íntimo enquanto o Sol em sua magnitude passeia preguiçoso por todo o seu ser, recarregando-lhe de radiações vitais. Todo o seu corpo vibra, fervilhando de vida. Tudo ao redor em contraste é paz e silêncio... Você deixa-se prazerosamente ser envolvida pela atmosfera mágica deste dia tão insólito.

As horas arrastam-se e você as absorve apenas sentindo-as entrarem em você, mas não passando por você! Cada minuto desse dia é seu alimento espiritual e você os deglute lentamente com o intento de abastecer-se de energias, para que todo o seu ser esteja em relação com as forças cósmicas, preparando-se você então para acontecimentos que ocorrerão logo que este dia termine e a noite se avizinhe...
E, com efeito, o tempo vai passando, você já se alimentou e também se carregou das forças invisíveis da natureza que por transferência direta lhe foram fornecidas durante todo este dia.

Agora você percebe através das cortinas, que a tarde vem caindo, você instintivamente seleciona um disco e o põem a tocar, deita-se no tapete acinzentado da sala apoiando-se numa fofa almofada caramelo, com seus cotovelos e em cima de suas mãos repousa o queixo pondo-se a fitar a noite que chega gradativamente...

No ar uma espécie de melancolia uma sensação de expectativa paira enquanto o disco a embala através de doces melodias com seus acordes hipnotizantes. O seu corpo relaxa-se mais perdendo a sensação de peso, vários pensamentos lhe afloram a mente, você sente que alguma coisa de espetacular está para acontecer, mas você não sabe o que!

O tempo passa e você não percebe, pois o toca disco já desligou e nas caixas de som apenas um ruído de baixa freqüência é reproduzido induzindo-a a um leve sono...

De repente você acordou sentindo como se tivesse chegado alguém, levanta-se sobressaltada, mas havia sido apenas um sonho, intrigada ainda você desliga o equipamento de som, olha pensativa entre as cortinas da sala, a noite lá fora já se faz presente!

... É o dia já havia terminado resignada vai banhar-se uma vez mais, não sei se distraída ou acostumada com a penumbra você não acende a luz do banheiro e já debaixo do chuveiro, põem-se a meditar sobre esse estranho dia. Dia que passou tão rápido e você continuou a sobre todas as coisas que sentiu e principalmente sobre essa nova maneira de ver as coisas até que... De repente um choque! Você estava se vendo! Apesar de estar no escuro, você se via nitidamente, a água escorria do chuveiro como uma cascata de luz... Uma luz prateada, uma tênue luz como as das estrelas numa noite sem lua...

Piscou os olhos várias vezes, mas a estranha luz fosforescente estava lá, perplexa você assustou-se e rapidamente acendeu a luz artificial quebrando o elo que ligava esta realidade a outra. Realidade essa, que de uma forma inédita para você, se fazia agora sentir...
Ainda perturbada você dirigiu-se para o seu quarto e nele a solidão após um dia de esquecimento toma-a de súbito e completamente triste você vai deitar, com o coração cheio de saudades. Entretanto uma angústia faz com que você role e role sobre a cama agora tão tristemente grande.

Se o relógio à sua cabeceira não fosse digital certamente você ouviria o tic-tac constante e previsível, monotonamente revelador do tempo que passa lentamente a acompanhar-lhe neste momento febril em que você desesperadamente busca um sono e um sonho que a faça esquecer por umas horas esta pesada solidão.

Pouco a pouco sem notar você vai relaxando, seus pensamentos em turbilhão vão serenando, o tempo vai se processando enquanto o breu da noite lhe envolve suavemente. Agora um torpor vai se produzindo e se apoderando da sua mente e todos seus pensamentos cessam de repente!

Na cama agora nenhum movimento, tudo é repouso e uma paz é reinante. Para você nada mais existe, um imenso buraco negro sim, onde sua mente se precipita numa velocidade crescente, mas você não sente medo, pois não sabe conscientemente o que lhe está ocorrendo! Você... Seu corpo... Sua mente, tudo gira e se precipita numa espiral vertiginosa, num vácuo total, sem emoções, sem reações e razões... Inerte assim como em estado de coma você se encontra.

A sua respiração está serena, sua temperatura baixou, as batidas do seu coração espaçaram-se, enfim: todo o seu metabolismo se modificou, o seu corpo literalmente está hibernando enquanto sua alma passeia por uma dimensão desconhecida, caindo... Caindo para dentro de si mesma! À medida que sua mente se precipita no seu corpo, toda aquela energia acumulada durante o dia, movimentam agora todas, mas todas as células que o compõem, fazendo peripécias a nível microscópico acelerando todos os elétrons dos átomos do seu corpo.

À medida que a velocidade aumenta, toda a matéria vai se modificando, transmutando para um estado de ebulição crescente, tudo gira acelera e transforma, criando um campo energético de alta potência transformando o seu corpo enquanto se mantiver nesse estado, num poderoso imã, magnetizando polarizando todas as forças existentes em cada célula atraindo a sua alma para esse estágio. Quando seu corpo estiver pronto, na realidade será um segundo corpo feito somente de etéreas energias às mesmas energias sutis da alma e então ele estará em sintonia com seu espírito... Com o seu eu!

De repente um rápido calafrio percorrerá a sua espinha, causando-lhe uma sensação de queda só, que uma queda para cima desconectada de lógica como aquilo nos acontece às vezes quando a gente sonha que está caindo e com isso acordamos sobressaltados...

Nesta hora você toma novamente consciência e a primeira sensação que você tem é que acordou... Mas para o seu espanto, tudo, mas tudo mesmo está diferente!
Você agora está liberta das leis que regem este mundo físico de três dimensões e das rígidas limitações dos sentidos e da mente. Você acabou de ingressar numa dimensão diferente onde o espaço e o tempo se funde e se anulam tornando-se conceitos relativos. Onde ambos deixam de serem contados e medidos numa escala linear e agora são tidos apenas por frações instantâneas de umas pluralidades de leis para nós ainda desconhecidas...

Pluralidade, que lhe permite voltar, ficar e ir ao mesmo tempo, enfim de estar em todos os espaços e tempos integralmente e instantaneamente...
Agora que você recobrou a consciência no meio desta noite. Sente-se leve a flutuar na cama, você ri do absurdo, mas o som do seu riso não lhe chega pelos ouvidos. Parece-lhe que foi recebido diretamente pelo seu cérebro!
Mas ainda assim você não se surpreendeu, porque até aquele momento ainda não tinha conhecimento do que lhe ocorria, pelo menos integralmente. Até que a um dado momento, por qualquer motivo você pensou em ir até a sala... E sem saber como, pois você não se lembra de ter levantado e andado até a sala, porém nela já se encontrava instantaneamente... Como num passe de mágica!

Aturdida você não compreendia e literalmente a flutuar você volta para o seu quarto e então um choque maior a esperava... Pois na cama, o seu corpo imóvel se encontrava a dormir. Por momentos angustiantes você ficou estatelada na porta do seu quarto. Depois adquirindo coragem se aproximou de você mesma na cama, receosa olhava curiosa aquele corpo inerte, podia ver detalhes nunca antes revelados nem pelo melhor espelho ou fotografias ou mesmo “recente vídeo tape”. Você vê a si agora, como vê nua e cruamente a qualquer outra pessoa, com as suas três dimensões, carne e osso, o seu colorido natural e muito mais! Você vê também o que não podia ver normalmente, pois você está no campo astral e nele pode ver os campos energéticos que constituem os diversos corpos de uma pessoa, com suas diversas cores invisíveis de luzes radiantes...

 Ao si contemplar mais calma, você percebe que um translúcido cordão de energias de uma cor prateada brilhante sutilmente liga o seu corpo físico ao seu corpo astral umbigo a umbigo. Nota também que ao se deslocar este cordão de prata se alonga à medida que você se afasta do corpo terrestre! Maravilhada você percorre o quarto a flutuar mansamente, sem esforço ou ruídos, placidamente como um singelo peixinho num aquário.

Neste momento põem-se a descobrir seu potencial de movimentação e ação, deixa-se ascender e chega ao teto, tenta tocar a lâmpada que só agora percebe que está apagada! Do alto você olha lá embaixo o seu quarto deste novo ângulo, brincando você resolve andar pelo teto de cabeça para baixo, ao chegar numa das paredes você desce ao nível normal reparando então num vulto quase imperceptível ao lado do seu corpo físico, estranha e assusta-se um pouco, mas ao concentrar-se o vulto toma forma e revela-se através de uma comunicação telepática, ser um guardião e que zelará pelo seu corpo enquanto você estiver fora...
Você o compreende e se acalma quando ele conclui que você deve aproveitar esta noite para expandir-se. Instintivamente passa os olhos pelo relógio e repara que pouco menos de uma hora se passara desde que você fora deitar, a noite era uma criança e você tinha tanto a descobrir...

Você dirigiu-se para a janela e naturalmente traspassa-a e vê-se a flutuar a céu aberto, põem-se a "caminhar" pelo ar, envolvida pela brisa noturna a empurrar-lhe sem destino através do seu bairro. As sensações foram indescritíveis, você a alguns metros de altura, os carros, os telhados das casas, as copas das árvores, alguns transeuntes noturnos, tudo e todos lá embaixo vistos de uma maneira tão bizarra. Você não sente medo da altura e resolve elevar-se mais, e automaticamente você vai subindo, subindo, as construções mais baixas vão ficando para trás ou será para baixo?

Neste ponto antes de aventurar-se a prosseguir, você olha para o seu prédio mais uma vez e se sente uma "cafifa", uma pipa solitária no céu, presa apenas pelo cordão de prata que a liga através da distância aquele corpo tão querido oculto pela cortina da janela. Ainda olhando para trás, sem se aperceber, você continua se deslocando, se aproximando numa diagonal ascendente numa rota de colisão à um grande prédio...



De repente você está inclusa na intimidade de um lar alheio. Os moradores despertos estão a assistir TV, você encabulada começa a se desculpar tenta explicar que foi sem querer até que você percebe que eles não a podiam ver que não sabiam da sua existência. Mais aliviada, você parte, mas agora só de farra resolve atravessar esse prédio no sentido vertical!
Bem! As coisas que viu as manifestações diversas expressas e tudo o que pode acontecer na intimidade de um lar e que foram observadas por você à medida que cruzava os diversos apartamentos subsequentes dariam para escrever um livro, e que para ser ético não relato aqui, pois pareceria fofoca da minha parte, além de encabular lhe desnecessariamente.

Finalmente terminou o prédio, novamente nos ares uma dúvida surgiu...
Para onde ir agora?

Por instantes você paira no ar indecisa, olha para baixo e vê o mundo cada vez mais distante. A noite está serena uma quietude a envolve. Nessa altitude em que se encontra, os ventos sussurram segredos em seus ouvidos uma grande liberdade a seduz e uma vontade louca de subir e subir toma conta de você e então você se concentra para subir cada vez mais. Suavemente a princípio e depois rapidamente você desloca cada vez mais alto, rumo ao até inatingível. Os metros, decâmetros, os hectômetros e até quilômetros são galgados.

Você atravessou camadas de ar quente e alguns farrapos de transparentes nuvens. Agora aqui no alto, o ar está ficando sensivelmente rarefeito, nestes poucos quilômetros de altura os seus horizontes já foram ampliados, você engloba os limites da sua cidade, todos de uma só vez. São trezentos e sessenta graus de maravilhas ao seu dispor... Lá embaixo, aquela avenida tão grande e iluminada lhe parece apenas uma linha de pequena contas de vidro brilhante, os morros ganharam novas perspectivas, todas as construções são apenas pequenas maquetes de um projeto qualquer. A esta distância você já não distingue mais os seres humanos, os carros só são percebidos pelo tremeluzir dos faróis ao serem cortados por obstáculos interpostos.


Você pássaro das alturas! Espectro prateado a flutuar...
Você livre e veloz criatura, que solitária cruza os céus...
Você é testemunha e parte integrante da grandeza deste mundo fantástico que a rodeia!


Banhada pelo luar você vaga entre alvas nuvens de formas abstratas que foram desenhadas no espaço por mãos invisíveis. O céu negro a circunda disfarçando horizontes, a sua direita um grupo de luzes faz evoluções no céu... É um avião que se aproxima, você fica quieta a observa-lo achando-o um tanto pesado e desajeitado, incrivelmente barulhento e ultrapassado... Uma verdadeira agressão à lógica ergométrica comparando-o a este novo estado em que se encontra!
Calmamente você deixa-o atropela-la e absorve-la para dentro de suas entranhas. Na cabina de comando divertida você olha a tripulação ignorante da sua presença a cuidar dos inúmeros instrumentos necessários para mantê-los no ar. Você agora se deixa passar para a área reservada aos passageiros e fica vendo por instantes as aeromoças solícitas atendendo alguns passageiros ainda despertos... Satisfeita a sua curiosidade, você parte buscando novas fronteiras...

Tudo o que aconteceu neste dia, deixou marcas profundas no seu ser, modificou totalmente tudo o que você sabia e esperava da vida! Este novo modo de ver a vida, as novas experiências recém-passadas, essa completa liberdade de movimentos, este seu corpo de energias... Tudo isso são coisas reais demais para agora serem negadas ou esquecidas. Você sabe que muito mais falta para ser descoberto, aprendido e vivido, sabe que esta sua primeira experiência no campo astral abriu novas perspectivas em sua vida e que também nunca mais você será a mesma!

Você sabe que quando você voltar ao plano físico sua tarefa será árdua e sistemática, no intento de aprimorar-se e entrar em harmonia integral e permanente com a natureza. Terá você sabe, de capacitar-se a distinguir o valor real dais coisas e fatos dentre todas as manifestações e conceitos que a nós são incutidos através dos fatos perceptíveis no cotidiano.
Neste ponto em que se encontra agora, em algum lugar entre o céu e a terra, você é partícula integrante desta imensidão que a cerca e tem decisões a tomar...
Você sabe que pode continuar a brincar entre nuvens, pegar carona em aviões ou subir cada vez mais; talvez rumo, a Lua ou Sol ou quem sabe rumo à outra galáxia? É possível!
Você sabe também, que pode circundar a terra em todas as direções, sobrevoando inúmeros continentes e países, mapeando-os numa incrível viagem turística, mas você sente que ainda é novata e não quer agora se afastar muito. Quem sabe se em breve e aos poucos, você se afasta mais?

Então do alto de uma nuvem desgarrada, você se lança com seus braços em delta num mergulho suave como a brisa... Você retorna num vôo livre, traçando uma lenta e longa espiral, sem pressa, mansamente deixa-se ser atraída pelo seu corpo distante.
O ar começa a se densificar e as camadas dele, vão se tornando mornas gradativamente. O traçado mistilíneo e geométrico das luzes lá embaixo que ao longe lhe era abstrato, aos poucos novamente vai tomando forma revelando-lhe os contornos dos acidentes geográficos. Agora você começa a reconhecer algumas dais ruas enquanto ao longe você vê a ponte que liga a sua cidade a outra vizinha em todo o seu esplendor, as praias iluminadas artificialmente estão nítidas, e que belas são a essa distância, tão planas as suas águas que por momentos você sente vontade de se deixar mergulhar profundamente! Os edifícios já são bem nítidos e erguem-se aos céus como se quisessem alcança-la numa tentativa ainda que inútil.

Ao chegar a apenas algumas dezenas de metros de altitude, você estabiliza a queda e põe-se a sobrevoar a cidade rumo ao seu bairro. Emoções diversas percorrem seu espírito, é fascinante percorrer assim as distâncias nesta imensa cidade de brinquedo, com seus habitantes diminutos e seus carros de corda...

O seu prédio se avizinha lentamente, despede-se você então desta extraordinária viagem, num último impulso você se desloca agilmente, deslizando para dentro do seu quarto. Nele a esperá-la o seu corpo inerte ainda velado pelo guardião que neste momento começa a desvanecer perante seus olhos. Lentamente então você aproxima-se da cama a flutuar há um pouco mais de um metro do chão. Sem saber como entrar de volta nele, desajeitada você paira sobre ele como se suspensa por fios invisíveis. Por instinto, você concentra-se um pouco, imaginando-se baixar lentamente a penetra-lo indo se aninhar em suas entranhas. Instantaneamente, um estranho formigamento apossa-se de ambos os corpos à medida que você entra em você...

Buraco negro!

Sua consciência por instantes se apaga enquanto no seu corpo físico ocorrem desacelerações e o seu metabolismo volta aos poucos aos níveis normais. O seu corpo se aquece, sua respiração volta ao normal... Tudo isso se passa em centésimos de segundos e num último estertor prova do ciclo completado e sua reentrada, por micros segundos do tempo uma carga elétrica traspassa todo seu sistema nervoso, trazendo-a a realidade, a consciência plena, enfim: acordando-a!

De volta as limitações físicas, você guarda bem forte a lembrança de tudo o que aconteceu hoje. Agora você se sente um pouco cansada, exaurida de suas forças devido a muito gastos de energias. Mas você tem o resto desta noite para descansar ao voltar a dormir!

Enquanto o sono não vem, você fica a pensar em todas as coisas que aconteceram hoje, lembra-se de algo e em seus guardados busca uma resposta e lá encontra velhos papéis e ao folhea-los, pasmada você encontra estas velhas linhas profetizadas há tanto tempo e nunca levadas a sério e você então constata perplexa que o dia relatado aqui finalmente chegara!

Um dia no seu futuro...


12/03/1983           Maurício Oslay de Vargas Alonso