segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mundo em Chamas



Mundo em Chamas

 Eu hoje passei para o papel, tudo o que nestes últimos meses vinha remoendo.
Escrevi com a sinceridade de um ingênuo, com a certeza de quem sabe o que quer. Com a coragem de um vencedor e principalmente: com o ardor pungente do desejo que ora me lavra o pensamento.
Escrevi coisas flamejantes que nem a mim eu havia dito...
E muito menos antes escrito!
Escrevi sobre você! Escrevi sobre a vida que me é todinha você... Escrevi enfim: sobre o que sou e o que quero depois que conheci este amor pôr você.

À medida que o tempo foi passando e depois que palavras após palavras no papel se condensaram suavemente, pude ver quanta, quanta coisa aqui dentro tinha para dizer. Eu escrevi e as palavras em borbotões afloravam da ponta da caneta quase sem controle rapidamente se aninhando lado a lado no decorrer de linhas, revelando a cada frase o feitiço quase maldito de que sou presa contumaz... Depois que conheci melhor você... Quero dizer: depois que conheci o melhor de você!

Semi-hipnotizado, febrilmente seguia a escrever, mas com a clareza do sentimento estóico que me impingia a razão.
Pôr momentos tão importantes eu rapidamente pincelava no papel traços coerentes que delineavam sem reservas, estas coisas que eu sinto e que de outra maneira, me são inibidas as faculdades para expressar!

Pôr toda esta noite estive metodicamente a brincar com as palavras.
Juntava entretido, grupos de abstratas letras e lindas palavras se formavam. Pegava então maravilhado, essas palavras e com ternura e sentido... E às punha lado a lado formando belas sentenças de grande significado. E embevecido muitas vezes ficava a lê-las e a relê-las, vendo retratados todos os meus mais íntimos sentimentos... Em branco e preto!
Todos eles claros e simplificados pelo óbvio, livres e longe de medos e dúvidas. Todas as linhas francas como a verdade, mas embriagantes e perigosas...  Pôr causa da inevitável dependência: assim como um ópio!

Palavras viciantes que me levaram a viajar pôr inúmeros e loucos sonhos. Palavras mágicas que me criaram efeitos sem defeitos.
Palavras que me explodiam alegrias, ao ver no papel, registrados, resultados do passeio festivo do meu espírito pôr este mundo fantástico das fantasias!

Eu estava deprimido curtindo a mais angustiante solidão, daquelas que nos atingem às vezes de supetão, deixando-nos desesperançados e com medo até de ao dormir, apagar a luz!

Como se num profundo e negro fosso, fossemos nos precipitar... Caindo vertiginosamente até o âmago do nosso particular inferno.

Pôr momentos desesperantes fiquei aturdido, procurando um meio para fugir dessa terra árida e causticante que aos meus olhos se espraiavam. Engolindo em seco sulcava-a em busca de umidade, revolvendo em meus pensamentos pequenas lembranças suas que me aliviavam feito bálsamo às dores!

Pôr uma pequena eternidade enrodilhava-me nas mais amenas lembranças, refrescando-me como pôr encanto nos pequenos flashes que eu trazia à tona...
Ao lembrar-me de você e do seu insinuante frescor. Tentando neles ávido aplacar a minha sede... Mas a sede me era tamanha que apenas tênue-mente meus lábios umedeceram. Pôr mais que eu sorvesse dos meus pensamentos sofregamente... Eu precisava mesmo era de você para minha sede matar minha solidão amainar...

E mais momentos desesperantes se seguiram... Até que de certa maneira achei um modo de tornar o meu alívio mais real, a minha solidão irreal, a nossa comunicação pela primeira vez total e estas distâncias, menos cruel, menos mortal!

... Criar um mundo! Sim! Criar um mundo todo meu! Todo seu! Que correspondesse a todas as expectativas presentes no meu coração, sem preconceitos, regras ou torres de Babel... Criar todo um mundo. Mesmo que apenas numa folha de papel! Fazê-lo sim! Esta era para cessar as minhas angústias a única solução!

Criei pôr toda esta noite, um mundo novo, um mundo livre!
Livre da absurda realidade, livre da desastrosa falsidade!
Livre de regras até as da gramática... Um mundo onde a temática não era estática era prática!
Um mundo livre de conceitos, livre de preconceitos... Livre de tudo...
Inclusive livre de mim, você e eles, mas não de nós!
Um mundo abstrato e utópico muito apto a êne fins. Pôr mim sutilmente bucólico... Mundo tão perfeito! Quadrante idílico onde éramos tão felizes, como nunca em outro mundo... Poderíamos ser!
Mas que agora arde em meio a chama de um mero e único fósforo!
Sucumbindo, desfazendo-se, desintegrando-se aos poucos e perante aos meus olhos. Transmutando-se em fuliginosas cinzas somente por que eu o seu criador, não tenho meios e coragem e talvez também o direito...
De interferir na sua vida ao revelá-lo a você!

Mostrando-lhe assim em algumas palavras o contraste de nossas vidas sobre a
Minha fantasia. E conseqüentemente toda a frustração que me assola pôr saber que a realidade que compartilhamos não comporta criar um lugar e um tempo para nós... Como aquele que no mundo que criei, e agora destruí, brevemente... Existiu!

                                                                                            MOVA 27/09/1984

Para Sempre Teremos Você



Para Sempre Teremos Você

(Homenagem póstuma a Frieda Alonso)

Carregadas e negras nuvens, no céu do meu destino avizinham-se. Empurradas lentamente pôr melancólicos ventos uivantes, que as trazem uma à uma desde muito longe para cima de mim... Transformando o meu dia á dia na mais longe e negra das noites. Vejo-me de repente prisioneiro dos elementos, tremendamente só e desamparado, perdido em meio a uma tempestade prestes a desabar... Sem ter a quem recorrer ou lugar para me abrigar!

No ar momentaneamente parado e um tanto abafado, um estranho odor se manifesta. Talvez das invisíveis partículas de ozônio magnetizadas. Talvez do meu medo primitivo, já visível... Não! Não importa saber, algo mais importante se insinua e me preocupa!
É essa estranha calmaria que tanto angustia como se fosse um presságio não articulado, assim como o silêncio atroz de um grito congelado no ar... E mesmo, a certeza de ninguém existir para me ouvir clamar!

Este ar denso meio cheirando a mofo, esta secura na minha língua, estas coisas esquisitas de apertar o coração, este sentimento ou receio que fás os meus pelos e cabelos eriçarem e esse pânico estático... Pôr demais, tudo isso está a me sufocar e a apavorar! Esta tempestade que ora se arma em minha vida há muito me fora predita, mas pôr mais que eu houvesse tentado me proteger... Não tive como e pôr isso estou a sofrer...

Você em muitas outras tempestades em minha vida a postos, atenta e paciente... Estava sempre pronta a estender os seus braços em resposta aos meus gritos aflitos de auxílio. Você sempre me confortou com seus sábios conselhos e tantas vezes ajudaram-me com a luz do seu discernimento mesmo na mais negra das minhas amarguras. Você recolhia-me do fundo dos meus mais graves conflitos e com calorosas palavras de compreensão enxugava-me as lágrimas que lavravam o meu espírito tão facilmente magoável...  Dava-me forças então e esperanças para lutar e vencer qualquer borrasca eminente...

Mas hoje quando os primeiros e grossos pingos se principiam a cair em forma de funestas notícias apavoro-me novamente e instintivamente tento me abrigar... Mas em vão. Desta vez nada, nada pode você fazer pôr mim... Pois abatida e cansada, cada vez mais exaurida de suas forças, começa a definhar, a diluir-se gradativamente e cada vez mais perto do céu...
...Se aproximando... Sendo levada como uma pena... Que pena!
Levada inexoravelmente pelos ventos dos desígnios para mais além... Muito mais além...  Deixando com saudade todos que amou e sem conseguir disfarçar uma tristeza, pôr nos deixar assim, desamparados, próximo a sua eminente partida, você verterá posso adivinhar uma gota de doída e triste lágrima de resignação. E espero também de alívio... Que pôr sua vez desencadeará pôr sê-la a última...
Uma imensa,  terrível e final tempestade em nossas vidas!

Durante muito tempo então um dilúvio nos assolará. O vento ríspido da vida como se fosse-mos joguetes, nos lançará de encontro há duros fatos e seca realidade. O frio da saudade e da dor nos abaterá congelando-nos o sangue... O medo da solidão e o vazio da sua ausência também nos martirizarão e pôr momentos infindáveis e opressores fatalmente iremos passar...
Mas eu sei que um dia também essa tempestade se extinguirá e lá do céu com certeza majestosa você brilhará feito uma esfuziante aurora, toda radiante, iluminando e nos aquecendo como sempre e para sempre!
... Os nossos caminhos, fazendo-nos outra vez ver que após cada tempestade indubitavelmente teremos você para nos amparar e aquecer, para nos abraçar e nos proteger... E pôr que não dizer, para nos amar e nós amarmos você!

MOVA 20/09/1984

Fruto Proibido



Fruto Proibido

Você fruto dourado que tanto me tenta
Você fruto maduro que a aparência me faz salivar
Você fruto apetitoso tão perto da minha mão...
Mas que não me pertence e pôr mais que eu queira, não posso lhe apanhar!

Muitas vezes então, me pego caminhando tentado de fato a lhe colher...
Andando pôr aí ávido do seu sabor, mas sem saber por quê...
Quando estou perto de você uma força estranha me impede de esticar os braços e a um simples toque arrebatar você!

Você fruto vestal, que no jardim do Edem paira.
Você fruto sem igual, que aos simples mortais apaixona.
Você fruto dos Deuses que um dia me apareceu e fascinou.
Até hoje você me instiga... Mas com seu sabor só posso sonhar!

No curso da minha vida quando menos espero o destino me trás você.
Às vezes tento nem lhe olhar, tento lhe ignorar e até esquecer...
Mas a sua fragrância penetrante, através das minhas razões e intenções insinua-se forte no meu coração despertando assim o desejo de lhe comer...

Você fruto malicioso de bela cor que instintos irracionais gera.
Você fruto tenro de roliças formas que ao tato induz.
Você fruto... Você frutificante mulher...
Você de brilho polido, tem-me pôr demais tentado... Portanto cuidado!...
Apesar de eu saber ser-me você fruto proibido!!

                                                                                                                    MOVA 16/09/1984

Traços de Fogo



Traços de Fogo

De chofre sem pedir licença, após tanto tempo mais uma vez em minha vida você entrou! Ou melhor, dizendo: de raspão apenas, tangencialmente tocando-a!
Nela você se inseriu fazendo suspense, chegando-me pôr etapas. Primeiro a notícia pôr terceiros sobre a sua volta e depois como para confirmar uma prova física no detalhe de uma foto sua, a outra pessoa ofertada e a mim casualmente chegada. E pôr último talvez... Um encontro frente a frente!

No turbilhão que ora me lavra a alma, fico angustiado supor...
Como! E quando! Esse encontro se dará... Confesso, porém...
Tenho medo e não sei o que fazer! Não sei quem terei pela frente. Será você que pôr todos estes meses desejei e amei, adorei e idolatrei e conservei viva e eterna nos meus pensamentos e coração?
Ou será outra mulher que a vida em cada segundo destes que nos separaram moldou, transformou enfim metamorfoseou numa criatura totalmente estranha daquela que ainda vive entranhada funda em minhas recordações...?

Tenho medo da minha reação ao ver a realidade num segundo destruir uma doce ilusão que pôr toda esta eternidade a nos separar; cultivei!
Tenho medo de ver desvanecerem-se todas as esperanças acumuladas. Em um simples, mas revelador olhar...

Medo de ter de um momento para o outro a má sorte de abdicar para sempre de um sentimento vital há tanto enraizado no meu ser.
De ter de passar a encará-la apenas com os olhos de quem nada sente ou espera em detrimento do conforto de uma verdadeira esperança de um dia tê-la minha...
Apesar eu sei de muitos fatos nos serem contra.

Mas o meu medo, tal como o de um boi no caminho do matadouro, não mais forte que o curso da vida. Ele nada poderá mudar a não ser embrutecer o meu espírito, tornando-o entorpecido e insensível as dores a mim reservadas. Preparando-me para que indiferente aceite e siga em frente o meu calvário e que a cada derradeiro passo não me acovarde e tente fugir ao meu destino. Enfrentando, pois honradamente o momento em que o cepo inexoravelmente sobre mim se abaterá... Acabando de vez comigo!

Entretanto todo o medo que sinto e me entorpece, não consegue inibir umas amargas lágrimas que pelo caminho que trilho gota a gota causticamente vertem silenciosas e rolam-me faces à baixo. Deixando marcados no meu rosto traços de fogo que em breve, quando após tanto tempo outra vez estivermos juntos...
Dramaticamente lhe mostrarão ao que pode ser reduzido um homem quando tudo ele perde inclusive a esperança.

Perplexa você constatará no fundo dos meus olhos mortalmente opacos, o medo letal reinando em minhas órbitas vazias asfixiando-me aos poucos... E você sem nada mais poder fazer, apenas a um toque de seus dedos... Delicadamente fechará pela última vez minhas pálpebras saindo em seguida rumo ao seu destino... Para fora... Prá fora de vez... Da minha vida!!

MOVA 13/09/1984

3x4



3x4

 Seguro em minha mão, entre o indicador e o polegar.
Um pequeno retrato seu prende-me a atenção.
Fazendo-me voltar no tempo, até aquele tempo... Tempo que não mais existe!

Há!...

... Aquele mesmo tempo que o rolar dos anos sepultou no fundo da lembrança, mas que o vento da saudade não deixa esquecer. Sacudindo vez em quando o pó há tanto depositado, e deixando assim transparecer nuns flaschs um pouquinho daquele tempo, que pensando bem nos fez há muito; muito sofrer!

Fito, entretanto serenamente, este diminuto retrato e todos os anos que separam a imagem antiga que eu vejo agora estampada, daquela real que não posso nem imaginar!
São dez anos. Dez longos e paradoxalmente tão curtos anos que existem a separá-las e também a nós! Tempo demais!
Tempo para tudo mudar. Para tudo embotar e se esquecer...

Mas antigas vozes quase espectrais ressoam em minha mente, criando ilusões e confusão. Trazendo-me à tona resquícios de um passado tão intenso, mas ainda assim passado e brincando com as minhas emoções, tentando minhas razões e despertando sobremaneira, antigas e novas frustrações...
E em meio aos turbilhões de lembranças geradas me envolvo mais!


... E mais e mais o tempo passa...

Não! Não posso deixar-me envolver no apelo sintomático deste simples pedaço de papel que retrata em sua superfície a dura pena que um dia passei e ainda não esqueci.
E que hoje sem mais nem menos, numa sutil armadilha tenta me prender hipnoticamente... Ao me fazer ver no par de olhos tristes que a mim contra fitam, uma promessa velada e antiga e que hoje ainda vigora... Pôr não ter sido ainda proferida!

A sua fisionomia neste retrato está séria e amargurada como se quisesse me mostrar que você também sofreu...
Não acredito que: Não tanto quanto eu! Pelo menos...
Não fui eu quem tudo terminou... Mas isso é outra história.

A razão, talvez tola, de agora estar olhando este seu retrato; é que hoje ao olhar num calendário, lembrei que a data marcada... É a do seu aniversário!
É um costume bobo e antigo que guardo até hoje e não consigo deixá-lo de fato e pôr isso nesta data sempre que posso do fundo dos meus guardados pego o seu retrato!
E fico assim pensando em tudo o que ele ainda significa para mim e constato até assustado, a força estática mas poderosa. De um passado remoto...

Que ainda emana deste inocente 3x4!

MOVA 18/08/1986

Até você entender



Até você entender

Muito tempo e distância hoje nos separam e nos anulam.
Muitos momentos conseqüentemente de sofrida solidão e desespero me assolam.
E a falta que sinto de você é tão grande e intensa que já não sei o que faço para apenas conseguir viver. Pois sem você for perto, num esforço tremendo meramente sobrevivo!
  
Não queria ou quero esquecer-me de você,
Não quero, pois, esquecer de tudo o que você representa. Apenas queria que voltasse! Voltasse para uma distância menor... Onde eu teria certeza de lhe encontrar!
... Que voltasse para um lugar real, que saísse desse lugar desconhecido que só em imaginação posso visualizar e lhe encontrar... Alcançar!
  
Não agüento mais vagar sozinho pela realidade destas ruas frias que percorro na ânsia febril de lhe encontrar mesmo sabendo que longe que muito longe você está!
Perambulo ainda assim impulsionado pelo ferrenho desespero de um desejo forte de a qualquer momento lhe encontrar... Eu sei! É loucura minha, mas louco estou ficando de tanta tristeza suportar!
  
Estas não são palavras escolhidas para escrever uma poesia qualquer...
Estas são palavras gritadas do mais fundo do meu ser!
Estão sendo gritadas para que em algum lugar batam... E reflita-se em múltiplos ecos e cheguem a você repetidas vezes, ate você entender que é hora de voltar para novamente me fazer viver, apenas com a sua presença doce que de todo sofrimento me faz esquecer!
  
Pôr isso então sigo pela vida, pelas ruas e pôr estas linhas gritando! Gritando através do éter e da distância, através de inúmeras barreiras... E do seu injusto silêncio. Gritando súplicas carregadas de esperanças intrínsecas as minhas palavras de fé a espera daquele eco crucial que a atinja e faça entender...
Que pôr mais tempo sem você eu não conseguirei viver!

MOVA 17/08/1984

Apenas Três Palavras




O infinito...

Enquanto a chama dure



Enquanto a chama dure

Nas trevas angustiantes que obliteram os meus horizontes, em câmara lenta me desloco entre vultos difusos e indistintos.
Meus movimentos cansados arrastam-me indefinidamente pôr entre obstáculos negros e disformes sem que o meu espírito entorpecido se de pôr conta.
Dias e meses se confundem monotonamente à ausência de uma luz que os marque. Tempo demais perambulando solitário pela vida que passa tornou-se uma tônica.
Pois tantos são os momentos perdidos que suas marcas amargas se estampam em minhas faces sob forma de reveladoras rugas que se aprofundam mais e mais.
Perpetuando em mim lembranças do imenso vazio que se apossou da minha alma em cada sulco...

Parece-me incrível que tanto tempo se passou desde que a chama do meu amor, pôr você foi acesa... Num momento de franca entrega e descobertas nos primórdios do nosso relacionamento...
Chama tão quente e de etéreas cores que se matizam até atingir um branco ofuscante prova de sua força e magnitude e que hoje ainda arde perene no meu peito, como símbolo mor de uma antiga era de felicidade e paixão indiferente dessa era não mais existir!

Chama flamejante que se renovava a cada instante que passávamos juntos e que hoje sem você para revitalizá-la... .esta chama que trago em mim consome-me aos poucos, nutrindo-se das lembranças suas que guardo no intuito de mantê-la viva e quente.
Esta chama interna que me aquece o coração é o que me resta após tanto tempo sem você é uma esperança serena e crucial ainda que remota de iluminar dentro das trevas que me abatem caminhos que me levem de volta a você...

Mas esta escura realidade de negras perspectivas absorve em suas entranhas toda a luz emitida pela chama que do meu ser brilha... Escondendo assim em sua escuridão aquele caminho que procuro tanto. Deixando-me vagar tateando pela vida em vão até que a última centelha de luz de um sonho dourado de vê-la uma vez mais, já agonizante... Se apague! Literalmente submergindo-me na mais completa e profunda escuridão jamais imaginada... Para todo o sempre!

Mas enquanto a chama dure, estarei alimentando-a com meus sonhos e lembranças, com a esperança de que sob a sua luz.  Obterei forças para lutar contra as trevas...
Que me impedem ainda hoje de encontrar esse tão almejado caminho...
                                                                                          
                                                                                                                                    MOVA 14/08/1984

Depois do Big Bang



Depois do Big Bang


Partículas de saudades no ar flutuam em suspensão. Voando aleatoriamente em velocidade meteórica ganhando força e ímpeto à medida que o tempo passa.
Partículas tão antigas quanto tempo que nos separa vagando pelo espaço de uma vida, brilhando nos céus da amargura.
E nas labaredas infernais do seu impacto causando uma explosão de dor, deixando, pois marcas em nossa superfície para sempre, centenas de crateras a princípio causticantes, depois cada vez mais frias e agonizantes.

Nesta vida que hora decorre, os choques são tantos e as suas lembranças e dores que nos afligem tão erosivas que em nossas almas caso fosse-nos possível vê-las veríamos uma paisagem desolada. Crivada de múltiplas cicatrizes e pústulas!

Nós seres errantes... Navegadores deste universo incrivelmente em expansão. Cruzamos mares intergalácticos de sonhos e realidades em rotas diferentes e indiferentes!
Propelidos pelo destino e suas leis enigmáticas aparentemente carentes de razão, rumo ao infinito de um futuro desconhecido...

Estas partículas que hoje em todas as direções divergem, são produtos resultantes do ‘Big Bang’ ocorrido no núcleo do nosso amor... Cada partícula dessas é um pedaço da história e passado nosso...
São pequenas provas irrefutáveis que outrora no centro de um sistema primitivo!
Éramos-nos fundidos, xifópagos de alma... Parte de um só ser...
Mas hoje separados na vida e no cosmos, estupidamente desagregados ao fim de um compactante amor!

Vagamos sem sentido pôr órbitas elípticas que em alguns pontos se cruzam, mas que pôr falta de uma força de coesão... Fundamentalmente não se interagem e se completam, para fundir-nos novamente em um só ser!

E pôr isso nos afastou ao longo de nossas órbitas desconexas, pôr mais uma translação incoerente de fria vivência, de triste sina e dura solidão...
Somos como que sugados pela inércia de forças maiores para frente sempre. Somos tragados no turbilhão de segundos irremediavelmente escoados somos sim compelidos, comprimidos e esquecidos pelas circunstâncias.

Pairando pela vida solitários e vez enquanto atingidos pôr uma partícula de saudade que nos trás a viva lembrança e ecos de tudo o que fomos nós e de tudo o que perdemos, junto com a certeza expressa de que neste espaço tempo...

Nunca! Nunca mais existirá... Um momento pleno, uma coerência magistral, uma força sem igual e sobre tudo, um amor total e final...
Como tudo que um dia antes do ‘Big Bang’... Existiu... E que formavam o que indubitavelmente fomos nós!
                                                                                                                               MOVA 13/08/1984

Múltiplas Cores



Múltiplas Cores


Linda tarde se desenrola mansamente pôr entre estáticos e nobres edifícios de cristal.
Um morno sol dourado filtra-se carinhoso entre seres majestosos do reino vegetal, displicentemente iluminando as pessoas postadas ao longo do passeio público.  Trazendo em seus raios lânguidos, beleza e júbilo sem igual.

São faiscantes grãos de poeira em suspensão que em singela harmonia nesta tarde sem qualquer razão formam no ar desenhos abstratos de original alegoria...
Desenhos de efêmera duração, mas magníficos em sua delicadeza... Infelizmente somente pôr poucos percebidos e pôr menos ainda apreciados!

Na esquina um vendedor ambulante apregoa sorridente, a qualidade da sua mercadoria, indiferente aqueles que sem prestar-lhe atenção, pôr ele, passam avante.

Hoje um dia como tantos, mas de certa maneira diferente...
Um dia com jeito de pintura, tema para muitas fotografias ou mesmo inspiração para arte.
Um dia lindo um dia comovente
Um dia como poucos e me faz esquecer até dos problemas da minha vida.
Um dia que me fez parar pôr instantes e com ternura observar embevecido uma simples margarida.
E atrás da sua fragilidade encontrar forças até então pôr mim inconcebidas.

Um dia que pelas suas horas corridas me brinda agora com uma apaixonante tarde seja olhando para o céu, seja olhando a minha frente ou a qualquer parte.
Uma tarde maravilhosa e inesquecível em suas múltiplas cores...

Enfim! Uma tarde desta era o que eu precisava para tentar entender e conseqüentemente à razão das minhas múltiplas dores!

MOVA 09/08/1984

Que Bom Tê-la Aqui



Que Bom Tê-la Aqui

Que bom tê-la aqui juntinho a mim enquanto escrevo sobre nós.
Mal posso acreditar que após tanto tempo desejando isso.
A tenho, como que materializada ao meu lado...  Dentro dos meus domínios, como um bálsamo sua presença cândida acalenta-me a alma.

É bom tê-la agora, compartilhando o meu mundo... O meu canto...
Pequeno compartimento de um lar, mas tão imenso e desolado sem você!
Estou gostando de vê-la curiosa assim descortinando com um olhar meio encabulado, os objetos e móveis que decoram o meu quarto e mundo.
Objetos que na sua disposição dizem-lhe um pouquinho a mais sobre mim...

Pôr exemplo este gravador à nossa frente. Você não imagina quantas vezes de dia ou de noite pôr horas seguidas tocou para mim músicas das mais românticas, tristes e belas, músicas que tanto eu imaginava e precisava ouvi-las com você. Musicas como esta agora que você gosta tanto e que finalmente juntos poderemos ouvi-la pôr toda esta noite...

Eu sei que esta é a primeira vez que você penetra no meu quarto... E de que recursos usei para tanto. Mas já que aqui você se encontra...
Tenho todo um sentimento a lhe confessar, sentimento que cultivo e curto à tempo e que somente através de poesias me era possível extravasar, já que diretamente eu sabia não poder lhe confessar... Pois com certeza esta vida complicada que nos cerca com suas razões misteriosas nos poria, irremediavelmente a nos afastar.

O  fato de esta noite me ser mágica e da sua presença pura poesia.
Dá-me forças para vencer medos e dizer-lhe agora que a amo e muito. De dizer-lhe que pôr toda uma solitária eternidade, esperei pôr este momento que felizmente hoje é realidade!

Sinta no ar deste quarto a vibração e aura que emana concentrada após tantos momentos passados pensando em você, veja nas paredes as marcas sombrias do tempo eterno em que amargurado fiquei sem você. Veja também aquele precioso e antigo retrato seu, única companhia minha nestas noites escuras onde como um farol no nevoeiro ele me guiou para salvação dando-me esperanças e forças para aguardar convicto um momento como este!

Ouça e sinta através deste gravador tudo o que em palavras não me seria possível lhe dizer... E... ... Não... Não sei o que está ocorrendo comigo agora. Sinto-me um pouco zonzo e fraco, a respiração angustiada e a fala tão difícil...
Sinto medo a minha visão está ficando aos poucos embaçada... O que será que me aflige?


... Silêncio sutil...
E você pôr que está tão silenciosa como um espectro?
O  que está ocorrendo afinal?
... Silêncio profundo...
Você está se distanciando...  Enevoando-se... Amor?...  Responda!

Não! Não se vá!... Seus lábios estão crispados...

Pôr favor não se vá! Volte!... Volte... Volte... Volte...

Não, não pode ser... Você estava aqui não é mesmo?
Diga que não foi tudo um sonho... Mais um sonho febril deste cara que arde
No fogo de mil infernos, pôr não tê-la sua. Diga que não foi uma irônica peça pregada pôr uma mente doidamente apaixonada pôr você...
... Silêncio... Silêncio de morte...
MOVA 07/08/1984

Mais Um Dia



Mais Um Dia

Mais um dia amanhece e com ele a rotina se repete.
Priiim!! Um despertador dá o alarme...
Clanc! Uma tapa reflexa o cala!
Um longo bocejo na cara se manifesta, mas o sono não espanta.
Pudera! A cama quentinha e gostosa o aquece e você não levanta.
É duro para quem batalha logo cedo levantar para o trabalho!


Tic tac, tic tac o tempo passa e aquele minutinho a mais
Em dez rapidamente se transforma enquanto inocente você dorme...
Tic tac, tic tac, tac tic... Tac tic?...
Sobressaltado de um pulo e atrapalhado você está de pé!


Corre então para o banheiro preparar café,
Volta a cozinha para se lavar e aos dentes...
Não, não, não! Ao banheiro para uma ducha quente e relaxante
E após, na cozinha para um lauto lanche!


Liga o rádio para ouvir a previsão do tempo e a hora certa. Mas pôr hora apenas uma música country e inúmeros comerciais à espera...
... Mais geléia no pão, e uma lambida rápida e reflexa nos dedos, enquanto de um gole liquida o finzinho do café!


Agora no rádio o terceiro sinal indica que você está atrasado,
Aquela outra torrada fica para depois!
Correndo de volta ao quarto num lance escolhe uma roupa e do armário pega dinheiro trocado.
Acende um cigarro e depois de um trago pôr momentos fita a cama,
Meio tentado. Mas desolado não se dispôs!
Vestiu-se apressado e com passos enérgicos à porta se dirigiu...
Não sem antes num espelho o último retoque no cabelo e enfim para rua saiu!

Mas que cabeça! Eta sujeito tresloucado... Não é que esquecera o rádio ligado!
Ainda com a chave na mão abre rapidamente esta porta dos mil diabos
E desliga com raiva o rádio, esse inocente e pobre coitado...
Não sem antes ouvir o locutor dizer... Que hoje é feriado!

MOVA 0708/1984

Náufrago



Náufrago

Nas lágrimas do meu pranto,
Navego perdido no escuro da sua ausência...
Flutuando inerte pelos mares da saudade,
Enfrentando pesadelos borrásticos e ondas incríveis de delírios febris!

A dor que ora me tange o peito, soçobra-me as forças para lutar
Neste mar bravio repleto de solidão

Noite à dentro, no negrume de minha decepção, entre destroços
Desesperadamente agarro-me ao que estiver mais a mão...
São, pois estas linhas porto seguro onde me lanço de coração em busca de apoio, paz e tempo!

Tempo para refletir, avaliar e respirar...

Tempo para com calma traçar no mapa do meu destino, uma rota que um dia me levará ainda que devagar. Para bem longe... Para bem longe deste ponto aqui no mar!

Tempo que me faça esquecer, deste barco do amor
Que sem você para comandá-lo... Hoje jaz, submerso e destroçado no fundo negro do mar.

Enquanto agora a deriva num salva-vidas precário.
Aguardo ansiosamente que a qualquer momento.
Alguém milagrosamente venha me salvar!
MOVA 31/07/1984

Tola ilusão



Tola ilusão
Meio de uma madrugada agora,
Uma umidade fria e lúgubre paira no ar,
Uma música romântica de um rádio se desprende...
E em mim, muita saudade de você!

É um domingo que se vai,
É um sonho que eu perco.
É mesmo uma vida enfadonha.
Essa vida que levo assim sem você!

É o sono que não vem.
É a culpa do que não fiz.
E principalmente! É a tristeza do que não farei...
Sem você meu bem!

É a falta de um novo caminho,
É a agonia deste meu duro destino.
É também a carga que você me deixou ao me deixar...
Para eu carregar sozinho!

É a vontade alucinante de lhe rever,
É a dor causticante disso não ser possível.
É entre tudo esta solidão corrosiva do meu ser...
Que nestes dias assim, tira-me a vontade de viver!

É numa tentativa de esquecer a dor que sinto aqui dentro sem você.
Que nestas linhas escrevo meus tormentos...
Com a tola ilusão eu sei que apenas elas bastarão
Para acabar com meus sofrimentos!

Mas no fundo tentando ignorar que me é inútil escrevê-las.
Pois as dores que eu sinto, não posso ainda que eu queira esquecer...
... Esquecer! Sem antes esquecer:
Tudo o que na vida me foi você!

                             MOVA 30/07/1984