terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Utopia II

Utopia II 

Alo amor, saúdo-lhe agora, esperando encontra-la em algum lugar no espaço e no tempo futuro de nossas vidas. Grafo nestas linhas mensagens de fé, esperança e amor... Só que subordinado as leis que regem o nosso eco sistema, escravo das leis da física que me prendem a um ponto ao longo de uma linha imaginária, a um lugar ao longo de uma estrada sem fim e retorno.
Preso a cada momento entre minutos passados e minutos futuros, aguardando impacientemente, aquele minuto sabe Deus qual, em que me verei novamente em sua presença. Enquanto isso eu fico, pensando na vida e nas nossas vidas.

Vida! Vida... Como expressar o que seja? Talvez eu possa compara-la a um grande carretel de um filme fantástico e como todo filme apenas uma ilusão. Por melhor que seja, por mais que nos prenda e absorva, ainda assim apenas uma ilusão. Posso dizer também que cada quadro ou foto-grama desse filme é uma partícula do filme como um minuto ou cada segundo seja uma partícula da vida.



Tudo bem, hoje são dois de Setembro de oitenta e três no nosso filme certo? Pois é; tudo a minha volta continua o mesmo, é tarde, a noite por coincidência está chuvosa e triste, eu aqui no meu quarto encontro-me tão só, no ar aquela saudade sua, dentro de mim o cansaço e o desespero de Ter que esperar que passe quadro à quadro estas cenas monótonas onde contraceno sem você...

É-me triste e angustiante olhar para este cenário que compõem a presente cena da minha vida, assim tão vazio e embotado faltando o calor, alegria e esplendor que só você poderia proporcionar.

No projetor da vida, o meu carretel vai gradativamente se desenrolando projetando na tela do destino a consciência de tudo o que nos separa, nela brilha a visão nua e crua do silêncio e da distância que há entre os protagonistas, no caso entre mim e você! Nela tal qual num espelho, vejo-me velho e decrépito, morto e esquecido e nem a maquilagem esconde os sulcos de dor que marcam a minha face. Vejo-me assim interprete de um drama do qual não posso fugir.


Quisera eu poder falar com o diretor, tentar mudar o script, suprimir estas cenas intermináveis que me separam de você, poder tornar presente e eterna a nossa união, viver apenas o ideal e esperado... "E viveram felizes para sempre", sem aquele definitivo, significativo e conclusivo... "The end.”

Mas quem será o diretor?
Eu? Minha consciência cósmica? Minha alma? Meu destino?

Não! Eu não posso ser esse diretor, pois sou apenas o ator, protagonista da minha vida com poucos poderes e liberdades de ação entre uma cena e outra, restando-me interpretar no escuro o roteiro traçado em outras esferas ocultas. Acredito sim, que o diretor seja o mesmo ser que colocou anos atrás um carretel intitulado num engenhoso projetor e o ligou na hora do meu nascimento e desde então um novo astro nas telas da vida, filmado em cinemascope, technicolor e o escambau.
Teorizo também que a vida não é um filme pronto, acabado, definido e radical, sem possibilidades de criação e edição. Acho que o diretor dela tem em mente um roteiro e que a vida vai sendo filmada aos poucos e inserida no carretel que se encontra girando no projetor. Isso significa que conforme a capacidade do ator de interpretar e interagir com os fatos necessários ao roteiro da vida, conforme a sua performance, seu rendimento e grau de empatia, o destino de uma cena futura, a sua realização poderá ser alterada segundo o gosto desse oculto, desconhecido, temido e adorado diretor.
Acredito que somente ele tem poderes para manipular e coordenar as diversas cenas que compõem uma vida. Somente ele tem o conhecimento pleno do enredo, somente ele sabe como terminará a fita!
O que me deixa um tanto o quanto perturbado, assim meio inseguro, ou melhor, totalmente inseguro; é justamente não conhecer o roteiro da minha vida, não ter a certeza de como vai se desenrolar este amor que sinto por você, não Ter em mãos um script que me revele o que você sente por mim.

Tudo isso me deixa louco! É esta maneira de viver quadro a quadro, de filmar cenas seguidas em camera lenta, sem certeza dos fatos futuros. É esta certeza de saber que para mim você é a estrela principal da minha vida, é a dúvida de que eu para você não passe apenas de um figurante ou um extra.
Viver assim fazendo parte de um filme hermético, totalmente incompreensível para mim é deveras angustiantes este Universo que nos cerca, é ao mesmo tempo estúdio de filmagens; palco de vivências e cenário cinematográfico, um belo cenário por sinal, de uma riqueza impar e de complexidade tamanha... Mas eu como ator sinto-me tolhido de forças por interpretar estas inúmeras cenas sem você. Fico triste e dependente do roteirista para muito embelezar e enriquecer o meu; o nosso filme!
Aqui no meu camarim onde escrevo estas linhas, fico pensando sobre muitas coisas, sobre as coisas que vivi, nos fatos que passaram, fico meditando sobre nós e sobre esse meu doido amor por você. Passo horas pensando, sonhando e desejando estar com você amor.

Tenho nas lembranças o conforto de que pelo menos em algumas cenas passadas em que juntos vivemos ou filmamos, coisas boas nos aconteceram. Tenho gravado em meu ser aquele momento mágico quase eterno em que meu amor frutificou, conscientizou-se em minha mente e explodiu em chamas por você. Momento esse que valeu o Oscar para melhor ator e atriz, Oscar para o melhor som o da sua voz e fotografia do seu sorriso, valeu também o Oscar para melhor trilha sonora e efeitos especiais entre outros e em agradecimento Oscar para o enigmático diretor.



 Não esqueço também daqueles momentos subseqüentes, momentos mágicos em que consegui capturar sua atenção, despertar em você novos conceitos e idéias, aflorar em sua pele arrepios de profunda emoção, cativar-lhe um esplêndido sorriso seu, momentos sublimes aqueles em que consegui alterar-lhe a respiração apenas dizendo-lhe o que sinto mesmo tendo sido dito por metáforas, evasivas, entrelinhas e analogias.
 Lembro-me bem do brilho mágico em seus olhos, do grito abafado em sua boca e daquele forte desejo que nos apossou então, embora não se concretizasse, pois afastáramos instintivamente um do outro, talvez com medo de nos permitir uma felicidade proibida e de muita confusão e dor futura em conseqüência direta desses instantes de fusão e muita paixão...

Ah! Como o tempo voa, esses fatos nos aconteceram a tanto tempo, que relembra-los agora, aumenta ainda mais essa distância atroz que me suga a vida aos poucos. Relembra-los me faz ver que tudo o que sentia e sinto por você aumenta ainda a cada triste quadro mais e mais. Lembra-los agora é como se eu lesse o script de uma história de ficção e que tudo isso que nos aconteceu nunca existiu realmente. Esta espera tão torturante, essa esperança tão irreal de conquistar-lhe, esse desejo tão grande de possuí-la sempre, esta agonia de vencer a distância que nos separa. Tudo isso deve possuir algum significado mesmo que oculto apesar da minha dor e que no momento ainda não posso desvendar.
Seja o que for, resta-me agora imaginar alguma forma para exterminar todas as forças negativas que me dilaceram decorrente da sua falta. Preciso arrumar um jeito de purificar o meu ser totalmente, esquecer tristezas, mágoas e dores, ignorar o tédio, a angustia, o cansaço e o medo.
Preciso sim, conservar incólume meu amor por você para que quando juntos estivermos num futuro breve, nada de errado ou ruim possa vir prejudicar a cena final do nosso filme, onde mais que encenar, nós viveremos finalmente o nosso por direito e tão desejado "Happy End.".

 

02/09/1983                                                               Maurício Oslay de Vargas Alonso

Utopia I



Utopia I


Após tantos dias de espera e de sonhos, de angustias e solidão, pego nesta caneta, um tanto cansado e desiludido, faltam-me forças e inspiração para escrever. Mas escrevo agora, para magnetizar nestas linhas, forças desconhecidas que atraiam fluídos enigmáticos, que possam de alguma maneira revitalizar o meu ego tão deprimido por esta longa distância e silêncio que compõem o nosso relacionamento atual.

Não sei o que escrever, mas preciso ainda assim tentar, mesmo tropeçando a cada palavra. Sim, é muito difícil escrever sobre mim, sobre você ou sobre nós. Eu cá no meu já conhecido silêncio do meu quarto, e você sabe Deus onde!

Eu lhe amo tanto! E você me faz chorar sem saber, apenas com a sua ausência!

Trago encerrado no peito esta jóia valiosa que é o meu sentimento por você e nem lhe posso oferecer. O que posso fazer para expressar aqui tudo o que sinto? Até quando me será possível lhe esconder tanto amor? E qual seria a sua reação ao saber?

Aqui neste papel, onde confesso todo o meu amor, crio através de palavras, um mundo de fantasias e sonhos, um mundo fantástico, onde seus parâmetros são definidos por mim baseados e regidos pelo meu amor em você, nele são corrigidas certas distorções encontradas neste.

Ele contém os mesmos países, porém sem guerras, as mesmas pessoas, porém com amor! Nele existem respeito e dignidade pela vida em geral, não existem ricos e pobres fracos e fortes, também não existem crimes, chagas e fome. Todos sem exceção possuem a paz da sábia compreensão das coisas, vivendo em comunhão com a natureza, dela extraindo apenas sua força vital. O tempo com a hora marcada e conseqüente pressa, nele não tem razão de ser, pois todos vivem em harmonia, intensamente para o agora.

As industrias, as fábricas, os bens de consumo, as escolas de todos os níveis, tudo isso existe mas não como os conhecemos, pois tudo isso é considerado como um estágio básico, como manutenção do psiquismo e disciplina do moral e aprendizagem indireta. A única religião deste mundo, é a busca da verdade. Nele as pessoas evoluíram, aprenderam a amar com todas as suas forças, sem se deixarem dominar por dúvidas, ciúmes, raiva, mesquinharias, sentimentos de posse ou escapadelas. Todos tem seu amor, pois souberam à quem amar e souberam se completar, pois eles sabem o que buscam.

Assim nestas poucas palavras, criei um mundo novo, um mundo ainda utópico, mas falta ainda incluir dois seres: eu e você! Sim este mundo foi criado para ser cenário e parte integrante deste meu grande amor por você. Eu aqui sozinho, a escrever, dono de palavras criativas, traço linhas gerais desse novo mundo, mas não posso fazer parte dele agora, pois eu seria uma partícula destoante nesse sistema.
  
Seria detectado como uma célula alienígena. Talvez um câncer, e como este mundo é perfeito, eu seria combatido ou pelo menos dissecado para estudos das causas de eu ser tão diferente...

Apaixonado, amante, mas só e triste e desesperado num mundo onde não existem esses conceitos. Mesmo eu sendo o criador deste mundo, a minha ida a ele assim sem você, com o meu coração em prantos, seria inevitável a minha crucificação tal como ocorreu à Jesus!
Pois nestas linhas, sou como um deus, com imensos poderes de criação e ambos fomos diferentes dos demais, cada qual em sua época e dimensão, sendo o medo à razão da crucificação.

Continuo a escrever, criando meios, criando portas e mundos. Agora através destas linhas, torno-a consciente de meu amor, você agora está frente à mim e também me ama. Sim aqui neste papel é possível. À princípio, você ficou aturdida, pois na vida real nada disso acontece, inclusive você gosta de outro...
E aqui neste papel, todos seus sentimentos são mudados, todas suas convicções são abaladas inclusive a deste fato ser possível acontecer.

Bem! Presos exatamente nesta linha, pomo-nos a conversar sobre o futuro, eu lhe explico que estamos numa espécie de plataforma de embarque, que estamos frente à uma porta de passagem entre dois mundos, o da vida real onde ela ama outro e o mundo que eu criei para nós dois e que cabe a ela escolher entre voltar ou seguir comigo através destas linhas...

Embora eu tenha poderes de saber e de influenciar na escolha dela, não o faço! Entretanto deixo os fatos aqui narrados em suspenso por enquanto, depois escrevo sobre qual foi a sua escolha.
Afinal eu tenho muito papel, caneta, palavras e principalmente amor! Amor para criar mundos utópicos e com certeza num desses a escolha dela será compartilha-lo comigo!

03/03/1983 - 03:15 Hs                                     Maurício Oslay de Vargas Alonso