segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Questionário


O Questionário


Às vezes me pergunto o porquê, desta minha angústia a turvar meus sentidos. O porquê desta tristeza a me cortar tão sem dó o coração, o porquê desta solidão tão amarga. Se tantos motivos tenho para ser feliz! Todas estas coisas que eu sinto são: Um descalabro, uma incoerência e um limitador da minha existência. Pergunto-me o porquê, mas não encontro uma resposta a altura para explicar tanta dor!

-    Será falta de amor?

-      Não! Não é, pois sou todo amor, vivo para amar com todas minhas forças, embora me mate o fato de às vezes eu não poder ser eu mesmo com as pessoas dando-lhes o meu amor há tanto gerado.

-        Será a falta de amar alguém em especial?

-   Também não! Pois o meu coração funciona como uma usina atômica, gerando continuamente amor no caso em que as pessoas se aproximam de mim. E hoje existe uma pessoa junto a mim, que faz com que o meu coração gere cada vez mais, radiações à níveis acima do normal, deixando-me completamente contaminado de paixão.

-         Será falta de ser amado?

-       Não! Eu acredito que sou amado de diversas maneiras e por muitas pessoas, por pessoas que eu até nem suspeite. E todo esse sentimento que me é creditado, é o que me dá forças e o que me prende ainda a vida.

-          Poderia explicar melhor a expressão “me prende ainda a vida”?
-          Não!

-          Por quê?

-         Ok! Você venceu! Em outras palavras, eu digo que se não fosse a consciência de saber que para algumas pessoas eu sou importante e querido (embora não saiba o porque.) isso para mim é uma compensação para todos os meus tormentos e me dá forças para não morrer de angústias ou suicidar-me espiritualmente.

-        Mas pelas suas atitudes que conheço você se contradiz, não é o caso?

-        Não... É apenas depressão, você vê apenas a agonia de um espírito contorcido por mil demônios mentais, reflexos de uma roda viva, de círculos viciosos e de uma extrema confusão de sentimentos. Você vê apenas um corpo cansado, derrotado por uma mente perdida. Mas no fundo saiba que há um espírito tentando sobreviver, chegar à tona!

-      Mas eu já ouvi você dizer diversas vezes em morrer, que falta pouco tempo de vida para você, que você não passará dos 33 anos e que você não quer morrer velho. Como explica isso?

-        Bem! Agora você me pegou, mas eu chego lá. Poderia lhe responder simplesmente, que é uma neurose minha. O que talvez seja e como tal explicado está. Mas eu sei que não poderia ser só isso. Para dizer a verdade são vários os motivos tais como: Uma certa morbidez, um prazer de chocar as pessoas, descobrir ou despertar sentimentos afetivos nas pessoas que eu quero bem, pela minha possível ausência prematura. Pode ser também uma fuga ou esperança de alívio para o meu espírito, vontade que aconteça mesmo, para saciar uma curiosidade existencial ou então sentir ou pressentir e consequentemente acreditar que realmente morrerei cedo, etc., etc.

-       Caramba! Antes não tivesse perguntado. Por tantos motivos assim acho até que você tem razão será?

-          Só o tempo dirá...

-         Algum dia lhe chamaram de louco?

-          Diversas vezes!

-          E o que você acha... É ou não é?

-          Sou! Mas sou pelo o que eu acho que sou; não pelo que me dizem que sou!

-           Não entendi!

-   Certas pessoas acham que eu sou louco, (louco tá meio forte, vou usar um submúltiplo: maluquinho) porque eu não sigo certas regrinhas institucionalizadas, porque sou um tanto diferente em algumas opiniões, atitudes e hábitos. Mas eu não considero isso loucura. Eu me considero louco por às vezes eu querer ou tentar ser o que não sou apenas para agradar a regra geral.

-          Não será essa a causa de tantos sofrimentos?

-          Qual? Eu ser taxado de louco ou ser louco de tentar ser são?

-         Louco de tentar ser são.

-          Pode ser... Talvez seja um pouco.

-     Então por que você não deixa de se achar louco e deixa que só nós lhe achemos louco?

-          Porque eu não sei qual é a melhor situação, ou seja; qual das duas partes é menos louca.

-        No meio dessas coisas todas que lhe aflige, cite alguma coisa que se orgulhe que tenha acontecido a você durante a sua vida.

-          O fato de eu ter sido o escolhido!

-          O escolhido?

-          Sim... Eu passei no vestibular Da...

-          Ué! Mas você não passou no vestib...

-          Não! Eu estou falando no vestibular da vida... Eu passei no vestibular de 1954.

-          Não entendi você nasceu em 1955!

-          Por isso mesmo, eu me orgulho por ter passado em primeiro lugar entre trezentos milhões de candidatos. Sim por eu ter me originado daquele pequenino espermatozóide que disputou uma vaga aquele ano para cursar este intrínseco palco iluminado.

-        Não era bem isso que eu estava perguntando, mas faz um, certo sentido. Agora me responda: Depois de você ter nascido... Existe mais alguma coisa que se orgulhe?

-         Depende da hora e lugar! Pois os meus valores são instáveis e mudam da água para o vinho conforme a minha compreensão de alguns fatos.

-          Ok! Já vi, que deste mato não sai cachorro! Vamos a última pergunta: Com este bate papo, você descobriu alguma coisa ou causa para essa sua angústia, tristeza e solidão?

-          Ué! Eu ia justamente lhe perguntar se você podia me responder essa questão!


10/04/1983 04h35min        Maurício Oslay de Vargas Alonso