segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As Quatro Estações



             As Quatro Estações


Acho que nunca estivemos tão longe um do outro, como nestes dias de hoje...

Um dia veio um verão e com ele, uma grande desilusão em meio ao seu forte calor...
Uma despedida ainda que fria, mas esperada...
Sem mas nem porquês, foi-me pôr você inesperadamente negada.

Tudo aquilo que eu sou tudo aquilo que você é...
Tudo o que somos, fomos ou poderíamos ser...
Tudo foi negado! Tudo ficou inexplicado e num simples silêncio, trancado!

Num silêncio tudo esquecido, num esquecimento tudo negado!
Negada também (quem sabe?), a última chance de lhe ver...
Negada as últimas palavras que tinha a lhe dizer...
Enfim: negados injustamente, os derradeiros momentos com você!

Tudo! Tudo isso aconteceu somente porque, você de mansinho deixou que o tempo e o silêncio pusessem tudo a morrer!

Assim aqui longe de você. Fico bem triste a lembrar daquele verão que em surdina. Talvez numa noite quente de luar. Para bem longe daqui sem ao menos, me avisar.
Levou-a em seu seio para o distante Belém do Pará!
Deixando-me esquecido e largado, perambulando pôr aí com a dor do desprezo e com a saudade que tanto tange no peito e destrói.
Dilacerado, amargurado e perdido pelas ruas de Niterói!

Fez-se outono em minha vida desde então.
As cores dela. Desbotaram-se todas drasticamente, seus tons tornaram-se pastéis e o cinzento lúgubre reina pleno. Empanando a realidade, tornando mais feia a perspectiva dos meus caminhos de andarilho errante.
No céu, o sol também brilha fraco pôr cá...
Talvez mais forte brilhe ele pôr aí onde radiante você está.
Ignorante contumaz sim, dos suplícios que passa este cara que tem na cara...
Uma máscara branca e feia, esculpida imagem marcada do homem,
Que um dia teve sangue vivo correndo em suas veias!

Mas o tempo passou, e o inverno sem pressa devagar chegou, trazendo no ar frio, o hálito inconfundível da amargura, borrifando o meu rosto com gélidas lágrimas noturnas. Nestas madrugadas insones onde caminho a esmo, procurando quem sabe? Pôr você!

...Junto à brisa cortante deste inverno emocional que me abraça, o destino esse onipotente senhor leva-me para mais distante...
A cada momento destes ziguezagueando pelas estradas do sul um anônimo ônibus carrega-me em seu bojo prisioneiro...
Viajo em grupo, mas sinto-me só. E na solidão paradoxalmente busco refúgio...
A minha turma no auge da alegria transforma-se em turba e em meio a sua balbúrdia, risos e gritos, alheio a tudo meus olhos fitam pela janela o céu e o lá longe o horizonte dos horizontes!
Eles medem angustiados, esta estúpida distância, que a cada momento, torna-nos mais e mais abstratos... Menos e menos reais!

Para trás vai ficando o meu passado doido, diluído pôr milha e milhas rodadas e com ele todos os meus sonhos quase senis de tê-la ainda, pelo menos uma vez mais... Para eu voltar a ser feliz.

O ronco suave do motor me embala noite à dentro confortando-me um pouco. Mas não abafando a angustia que me assola pôr sabê-la de mim cada vez mais distante, enquanto isso lá fora a escuridão da noite retrata meus sentimentos feridos, com o seu véu negro e melancólico a encobrir meus horizontes...
Carros cruzam de vez em quando e a luz dos seus faróis queima em minha mente, como a da esperança, que me sobrevém ao imaginar-me num deles... Voltando veloz para buscar-lhe...

Mas como ocorre com os carros, a minha esperança também se perde numa curva da estrada... Escondendo-se na escuridão de minha alma frustrada. E um desânimo então toma conta de mim bruscamente. Fazendo-me perder mais ainda o interesse do que tenho pela frente!

O tempo implacável passa, o relógio impassível o marca, o meu corpo dói do o sente, mas minha alma sofrida o ignora! O meu destino num repente bate-me à cara... Está à minha frente! E ao fim da viagem finalmente chegara...

Ainda é inverno e como não poderia deixar de ser... Muito, muito mais frio aqui longe tão longe e sem você!
Compromissos me prendem aqui, obrigações lhe prendem aí, mas enquanto isso sofro, e me enregelo pôr saber-lhe indiferente as minhas penas e pôr deixar-me só e perdido aqui nesta cidade estranha de múltiplos mistérios ainda que belos....

Agora me vejo fugindo aos meus companheiros e como se mimetizado eu estivesse, torno-me invisível aos seus olhos indagadores para com isso ter mais tempo meu. Para com ele em minha concha de silêncio e com meus sentidos super excitados. Poder captar ínfimas irradiações espectrais pôr ventura emanada pôr você!

Mas qual! Não passava de mera tolice de um coração hoje pelo avesso.
Pois nada mais seria captado do que tênues ecos do fundo da minha alma
Sonhadora!

No abrigo buscado de uma boate, fitando indiferente aquela multidão frenética. Aos poucos me apercebi de como eles eram tão parecidos com você... 
A mim estranhos distantes e irreais!
Retirei-me então mais triste e só do que antes. Enfrentando de cara novamente uma noite fria e vazia, monótona parte de um longo inverno em minha vida.
Sem a esperança e a certeza de que quando eu voltar um dia...
Encontrarei uma vez mais a primavera que me foi você!

Realmente! Nunca estivemos tão longe um do outro como nestes dias de hoje!

                                    MOVA - INÍCIO- 11/07/19844  - FIM -  03/08/1984

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