segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mundo em Chamas



Mundo em Chamas

 Eu hoje passei para o papel, tudo o que nestes últimos meses vinha remoendo.
Escrevi com a sinceridade de um ingênuo, com a certeza de quem sabe o que quer. Com a coragem de um vencedor e principalmente: com o ardor pungente do desejo que ora me lavra o pensamento.
Escrevi coisas flamejantes que nem a mim eu havia dito...
E muito menos antes escrito!
Escrevi sobre você! Escrevi sobre a vida que me é todinha você... Escrevi enfim: sobre o que sou e o que quero depois que conheci este amor pôr você.

À medida que o tempo foi passando e depois que palavras após palavras no papel se condensaram suavemente, pude ver quanta, quanta coisa aqui dentro tinha para dizer. Eu escrevi e as palavras em borbotões afloravam da ponta da caneta quase sem controle rapidamente se aninhando lado a lado no decorrer de linhas, revelando a cada frase o feitiço quase maldito de que sou presa contumaz... Depois que conheci melhor você... Quero dizer: depois que conheci o melhor de você!

Semi-hipnotizado, febrilmente seguia a escrever, mas com a clareza do sentimento estóico que me impingia a razão.
Pôr momentos tão importantes eu rapidamente pincelava no papel traços coerentes que delineavam sem reservas, estas coisas que eu sinto e que de outra maneira, me são inibidas as faculdades para expressar!

Pôr toda esta noite estive metodicamente a brincar com as palavras.
Juntava entretido, grupos de abstratas letras e lindas palavras se formavam. Pegava então maravilhado, essas palavras e com ternura e sentido... E às punha lado a lado formando belas sentenças de grande significado. E embevecido muitas vezes ficava a lê-las e a relê-las, vendo retratados todos os meus mais íntimos sentimentos... Em branco e preto!
Todos eles claros e simplificados pelo óbvio, livres e longe de medos e dúvidas. Todas as linhas francas como a verdade, mas embriagantes e perigosas...  Pôr causa da inevitável dependência: assim como um ópio!

Palavras viciantes que me levaram a viajar pôr inúmeros e loucos sonhos. Palavras mágicas que me criaram efeitos sem defeitos.
Palavras que me explodiam alegrias, ao ver no papel, registrados, resultados do passeio festivo do meu espírito pôr este mundo fantástico das fantasias!

Eu estava deprimido curtindo a mais angustiante solidão, daquelas que nos atingem às vezes de supetão, deixando-nos desesperançados e com medo até de ao dormir, apagar a luz!

Como se num profundo e negro fosso, fossemos nos precipitar... Caindo vertiginosamente até o âmago do nosso particular inferno.

Pôr momentos desesperantes fiquei aturdido, procurando um meio para fugir dessa terra árida e causticante que aos meus olhos se espraiavam. Engolindo em seco sulcava-a em busca de umidade, revolvendo em meus pensamentos pequenas lembranças suas que me aliviavam feito bálsamo às dores!

Pôr uma pequena eternidade enrodilhava-me nas mais amenas lembranças, refrescando-me como pôr encanto nos pequenos flashes que eu trazia à tona...
Ao lembrar-me de você e do seu insinuante frescor. Tentando neles ávido aplacar a minha sede... Mas a sede me era tamanha que apenas tênue-mente meus lábios umedeceram. Pôr mais que eu sorvesse dos meus pensamentos sofregamente... Eu precisava mesmo era de você para minha sede matar minha solidão amainar...

E mais momentos desesperantes se seguiram... Até que de certa maneira achei um modo de tornar o meu alívio mais real, a minha solidão irreal, a nossa comunicação pela primeira vez total e estas distâncias, menos cruel, menos mortal!

... Criar um mundo! Sim! Criar um mundo todo meu! Todo seu! Que correspondesse a todas as expectativas presentes no meu coração, sem preconceitos, regras ou torres de Babel... Criar todo um mundo. Mesmo que apenas numa folha de papel! Fazê-lo sim! Esta era para cessar as minhas angústias a única solução!

Criei pôr toda esta noite, um mundo novo, um mundo livre!
Livre da absurda realidade, livre da desastrosa falsidade!
Livre de regras até as da gramática... Um mundo onde a temática não era estática era prática!
Um mundo livre de conceitos, livre de preconceitos... Livre de tudo...
Inclusive livre de mim, você e eles, mas não de nós!
Um mundo abstrato e utópico muito apto a êne fins. Pôr mim sutilmente bucólico... Mundo tão perfeito! Quadrante idílico onde éramos tão felizes, como nunca em outro mundo... Poderíamos ser!
Mas que agora arde em meio a chama de um mero e único fósforo!
Sucumbindo, desfazendo-se, desintegrando-se aos poucos e perante aos meus olhos. Transmutando-se em fuliginosas cinzas somente por que eu o seu criador, não tenho meios e coragem e talvez também o direito...
De interferir na sua vida ao revelá-lo a você!

Mostrando-lhe assim em algumas palavras o contraste de nossas vidas sobre a
Minha fantasia. E conseqüentemente toda a frustração que me assola pôr saber que a realidade que compartilhamos não comporta criar um lugar e um tempo para nós... Como aquele que no mundo que criei, e agora destruí, brevemente... Existiu!

                                                                                            MOVA 27/09/1984

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