quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Distância


A Distância


Nós já estudamos muitas coisas tais como, sistema solar, planetas, constelações, peso, distância, velocidade da luz, teoria da relatividade do tempo etc. Sabemos que o astro rei do nosso sistema, é uma estrela de quinta grandeza de cor amarela e que este astro que tanto calor nos dá, que nos ilumina a vida e que nos banha com seu campo eletromagnético, está tão solitário no espaço há apenas oito minutos luz de nós e nem nos damos conta disso. Não calculamos a imensa distância que nos separa dele nestes míseros minutos, pois em muitas outras coisas temos nossas atenções voltadas...

Agora aqui sozinho no meio da noite, em meu quarto com o espírito contorcido de saudades, ponho-me a pensar e tento de alguma maneira expressar o quanto estou só e perdido nesta distância que me é rudemente imposta.
Quero tanto desabafar, falar das coisas que sinto, das coisas que fiz e dessa triste procura e esperança de encontrar-me mesmo por um segundo com aquela que o meu coração tanto anseia conquistar.

Puxa! Contando com hoje (01/02/1983), já são quarenta e três dias sem ver ou saber notícias dessa menina que eu desejo tanto. Todo esse tempo, tenho sofrido com a sua ausência, sofrido com esta minha inútil busca e este imenso vácuo de temperatura mortal, que cresce a cada segundo que não a vejo.

A cada dia que passa, sinto que estou a perdê-la, pois estou vagando em sentido oposto a ela, prisioneiro impotente, das leis que regem a inércia, me afastando a cada segundo, a velocidade da luz por quilômetros e quilômetros.

Há tanto tempo estou sem vê-la, que me faz sentir medo o passar das horas, torno-me descrente que a felicidade me seja permitida. Podem me achar e chamar de exagerado, já que estou apenas quarenta e três dias longe dela, mas eu provo com outra cifra que a distância é grande, pois mil e trinta e duas longas horas já passaram e a vida para mim nada significou sem tê-la tido junto a mim. E se ainda assim vocês não acreditam em mim, rebato dizendo-lhes que sessenta e um mil novecentos e vinte minutos penosos seguiram-se desde a última vez que a vi, sem falar nos milhares de angustiosos segundos escoados...

É tempo demais sozinho e amargurado, tempo suficiente, por exemplo, para a luz ter ido e voltado ao sol três mil oitocentos e setenta vezes seguidas, enquanto eu a procurava nos mais sombrios caminhos da razão.

É triste esta distância e eu acho que me resta apenas esperar mais um tempo para vê-la e se eu der sorte de conseguir as coordenadas do seu paradeiro então poderei partir com certeza em sua busca...

01h55min
MOVA 01/02/1983


   

A Distância II (05/02/1983 00h18min)


É! Os minutos, as horas e também os dias, continuam a passar indiferente a minha dor. O tempo marcha rumo ao futuro, deixando-me sufocado entre lembranças do passado, angustias do presente e incertezas do por vir.

Eu preso nesta cápsula espacial, que é o tempo, afastando-me vertiginosamente deste grande amor à velocidade incrível da luz rumo ao espaço, atravessando sistemas solares mil, nebulosas e galáxias, deixando para trás neste planeta o meu grande amor não correspondido.

Daqui onde me encontro, só através de potentes aparatos óticos, é que posso vislumbrar ao longe no firmamento, um diminuto ponto azulado na terceira órbita do meu longínquo sistema solar, que identifico como a minha saudosa Terra.

O meu coração bate mais rápido, sabedor da distância que me separa das coisas que me são caras. Agora, cada vez mais longe, já me é difícil ver esse mundo, mesmo através de instrumentos...

Solitário e triste, presa impotente do tempo, meu corpo jaz inerte indiferente a estímulos externos, minha mente vaga turva em conflitos, minha solidão teima em forçar lágrimas em meus olhos, minha boca treme enquanto meus lábios balbuciam seu nome, chamando-a, implorando o acalento dos seus, minha alma em febre contorce-se em dor com a sua falta.

É, a esta distância, no frio do espaço, só o pensamento pode me manter perto de você, lutando contra o tempo que nos afasta a cada segundo. Todo o meu ser se esforça em se concentrar apenas em você, senti-la invisível ao meu lado, lutando contra esta distância cruel.

Sabe? Desde o dia em que nos vimos à última vez, só decorreram quarenta e sete dias, mas nesta velocidade em que estou me afastando de você, já percorri milhões de quilômetros no espaço, já ultrapassei centenas de mundos e todo este tempo, senti a falta que você me faz e muito queria ouvir sua delicada voz, ver a sua bela imagem, mas o triste é que você nem sabe do meu amor!

Aqui nesta nave, tenho sensores e aparelhos de comunicação que abrandariam esta solidão, mas a enorme distância faria que eu esperasse quarenta e sete dias inteirinhos, até que a minha mensagem chegasse aí junto a você e outros quarenta e tantos para ouvir a sua resposta, isto caso eu permanecesse parado aqui neste ponto do universo. Entretanto, continuo me deslocando em silêncio, pois temo que você não possa me amar e a certeza disso, por certo me esmagaria por descompressão... Resta-me continuar a viagem, rumo ao amanhã desconhecido indefinidamente, mas trago no fundo da alma a esperança de que em algum dia, você note a minha ausência e que aflita invoques por mim. Eu a escutaria, pois minha nave tem sensores especiais, capazes de captar os seus mínimos chamados, acionando em seguida os retro propulsores, fazendo com que eu voltasse para si com uma velocidade superior a da luz, pois estaria voltando para você com toda a velocidade que o amor como agente propulsor é capaz!
MOVA 05/02/1983 

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