quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Insólita Metamorfose



 Insólita Metamorfose

  • Luz e escuridão, calor e frio, ar e vácuo, barulho e silêncio.
  • Lucidez e loucura, alegria e dor, sonho e pesadelo.
  • Esperança e desilusão, amor e ódio, paz e confusão.
  • Docilidade e agressividade, bondade e maldade,
  • Multidão e solidão
  • Tudo e nada... Tudo!
  • Tudo isso me rodeia, tudo isso me forma...
  • Tudo isso me chateia, tudo isso me devora!



 Do fundo escuro deste úmido e frio poço em que me encontro, o calor me é roubado aos poucos a cada momento que passa. Deixando-me inerte e com a mente entorpecida de frio circunstancial que invade o meu coração, dele expulsando sonhos lindos de uma ingenuidade primaveril, sonhos de desejos cristalinos, sonhos de pura poesia e amor...
Expulsando gradativamente aquelas emoções benignas tão essenciais a vida, tornando-me assim, prematuramente velho, prematuramente ressecado e árido em fim: prematuramente morto!

No fundo deste grande poço, piso em lama pegajosa e fétida, meus movimentos são tolhidos pelo seu peso e a angustia é grande, no meu ser, o medo ronda a minha cabeça, o ar me é tão difícil sorve-lo e a minha consciência tende a abandonar-me na mais completa escuridão...
Desesperadamente tento agarrar-me a qualquer fiapo de esperança, penso em você então, e uma nova onda de forças inexplicáveis faz com que eu lute em desespero contra a pressão das circunstâncias.

Daqui do fundo deste poço novamente a desilusão me adota e um grande ódio então penetra através dos meus poros, atingindo vasos e artérias alojando-se e envenenando indevidamente o sangue vital. Trazendo-me loucura e fogo de mil infernos a arderem sem parcimônia cada centímetro do meu ser.
Numa louca tentativa de fuga deste inferno particular, mergulho de cabeça nesta massa lúgubre expelindo de meus pulmões todo o resto de ar viciado... Deixando-me então afundar mais, sufocado entre bolhas de gases letais.

O tempo e o espaço perderam seu significado em minha mente apenas o vácuo total e no meu coração a dor aguda de uma alegria negada.
Submerso e literalmente só, com o meu corpo depositado no ponto zero de forças que se anulam e esmagado por incoerências circunstanciais, começa ele a se degradar, decompor; seus tecidos vão necrosando, metamorfoseando, fazendo parte com maior integração deste Universo que o cerceia.

 

Solidão e silêncio, escuridão e frio, tudo e nada...
Esses são os elementos que testemunham o meu fim...

No fundo daquele poço, ignorado por uma multidão, jaz uma pasta orgânica, restos de um ser solitário agora mesclado ao ambiente formando fonte de energia para bactérias e vermes. Agora, abandonado aquele elo físico que me prendia a esta realidade, alço-me as alturas, o meu ser toma de uma segunda consciência, experimento fascinado novas sensações, vejo tudo de uma maneira clara, radiante e diferente. A agonia da minha alma presa aquele corpo transformou-se em júbilo ao ver-se livre das limitações intrínsecas aquele estado.

  Agora eu sou tudo! Eu estou em tudo! Faço parte agora de toda a plenitude das forças que regem a criação. Uma doce paz me toma consciência, uma serenidade nunca antes sentida coordena meus novos pensamentos, dando luz total aos meus atos presente, um multifacetado amor preenche o meu coração agora não representado por um músculo torácico, mas sim por toda energia e matéria que compõem o que chamamos de realidade.
Agora não estou mais só, pois também sou você, não tenho mais fome, pois sou o trigo a massa e o pão! Sede, frio, calor, agonia, dor, tristeza, raiva ou qualquer outro elemento ou sentimento... Tudo... Tudo isso se anula, pois faço parte!
 

Neste novo estágio de consciência, contato-me com outros seres que como eu, alcançaram também a plenitude de ação e compreensão... Agora e sempre juntos, aguardamos pacientemente que cada um de vocês se junte a nós por toda a eternidade.

16/07/1983                                                              Maurício Oslay de Vargas Alonso 

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