quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

São Gonçalo 10 de Maio 1982


São Gonçalo 10 de Maio 1982

          Aqui, preso entre conflitos de ordem psíquica, moral e de princípios. Vejo-me envolto numa atmosfera fria, fria como o vácuo. Com o peito cheio de angustia e dores, tudo me parece embaçado e sem cores, estou confuso e só, sinto necessidade de escrever, para um pouco extravasar essa energia negativa que gero a cada minuto e que tanto me tolhe.

Escrevo apenas, parte do que sinto, pois muito mais eu penso, muito mais me envolve e oprime e eu não tenho tempo e rapidez para expressar na íntegra tudo o que eu estou sentindo. Gostaria de escrever sem sentir e pensar gostaria que as minhas palavras me saíssem fluentes, que sussurrassem com um mínimo de poesia, aquelas coisas tão fortes que estão tão sem dó a dardejar o meu coração.

Como invejo aqueles que têm o dom das belas palavras e da crítica translúcida, daqueles que sem aparente esforço conseguem transmitir tudo o que pensam, de forma clara e coerente. Gostaria de escrever e dizer agora, mais, mais, muito mais...

Dizer sobre mim, sobre você seja você quem for e sobre todas essas coisas que nos rodeiam assim como as vejo e entendo, mas para minha tristeza o meu diálogo interno está interferindo e cancelando o meu processo fisiológico de coordenação natural dos meus pensamentos, deixando-me impotente e desarvorado; não senhor das minhas palavras.

Não sei por que, mas está acontecendo, tenho medo de escrever, de me revelar para este pedaço de papel mesmo acreditando que ele possa vir a ser o meu remédio, a minha cura e a dos meus grilos e neuroses.
Ah deus! Não sei por que, nós seres humanos, não somos pura e simplesmente felizes... Não sei por que, não sei por que!

Tenho hoje vinte e sete anos cronológicos, sonhos utópicos de criança, vivência de um adolescente de uma era a qual sinto não pertencer e frustrações e mágoas de um adulto que o mundo esqueceu. Sinto que alguma coisa ocorreu no meu processo de formação há muito e muito tempo, que me inibe, mesmo contra a minha vontade de me relacionar mais profundamente com as pessoas, com convenções sociais, e as regras gerais tão comuns às demais pessoas.

Coisas tão banais às vezes me tornam tão confuso e trapalhão. Sinto-me como se eu fosse um ser digamos da quarta dimensão e não apto a compreender as formas abstratas aos meus sentidos deste mundo físico de três dimensões. Digo isso, pois sou regido pelo instinto pela fé e esperança de um ideal, pelo amor e credulidade e por infinitas forças não detectáveis aos cinco sentidos dos nossos órgãos de comunicação com o mundo exterior. Eu acho que é por isso que eu vivo neste conflito interno que muito me atrapalha a ser um ser social integrado.

É duro conviver com a certeza de que nós e tudo o mais, somos apenas uma ilusão. Uma ilusão dos sentidos, apenas rótulos, fachada de uma crença, uma convenção imposta e aceita, parte de um grande cenário cinematográfico (digo isso por instinto apenas)...

  
Tendo como exemplo uma população de quatro bilhões de seres neste planeta, temos então quatro bilhões de ilusões, de mundos e cenários.

Confuso eu sou muito, quanto mais ou menos eu penso, mais e mais me confundo, quanto mais procuro uma saída, mais uma entrada eu acho...

É, neste mundo de ilusões, uma grande se faz presente. É, para complicar as coisas, temos como meio de ligação entre os bilhões de seres nativos um meio de comunicação falho, mas tão acreditado que é a palavra, a fala que nos seduz.

Palavras que tanto nos iludem, palavras que tanto nos apoiam, mas, não são somente as palavras que me perturbam, me abala muito saber que o que eu acho que eu sou hoje (o Maurício de agora), não é o mesmo Maurício de ontem e nem vai ser o de amanhã. (conceito este expresso literalmente).

Ah! Como eu me enrolo nos meus pensamentos, como me influencio com os pensamentos alheios, como quero falar com alguém sobre tudo o que eu penso que sei.

Eu sei que tenho muito a percorrer e que muita coisa não será compreendida por mim, mas tentarei explicar os meus pensamentos para eu mesmo e ver se consigo decifrá-los.

Agora pintou cansaço no pedaço, vou parar de escrever por hora. Sei que você não se importará, já que você não estará lendo estas linhas, pois não vou mostrar esta escrita bizarra a nenhuma ilusão dos meus sentidos.

Ass.: uma massa atômica composta de 70% de h²o, convencionalmente conhecido por...

                  Maurício Oslay De Vargas Alonso

10/05/1982

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