terça-feira, 23 de novembro de 2010

Circo da Vida




Circo Da Vida

Como se em um fio de arame eu estivesse a andar...
Pôr momentos dramáticos e angustiantes, procuro me equilibrar neste dia a dia febril que há tantos meses me atinge...

Equilibrista pôr força das circunstâncias, o remédio é tentar manter-me a prumo custe o que custar. Lutando para tanto, contra a gravidade das forças e contra a força da gravidade.
Que tendem inexoravelmente a me puxar para bem longe da realidade.

Ah! Ainda me lembro: um dia não há muito tempo, apenas como espectador do circo da vida, eu fazia parte...
Descompromissado e feliz a cada dia, de tudo um pouco eu assistia; comendo pipocas ou amendoins; sonhando com a vida e dela me encantando, com sua magia.

Tudo se desenrolava as mil maravilhas... Mas certo dia, a vida me reservara entre tudo uma surpresa!
No centro do picadeiro, introduzira-se uma bailarina que era uma beleza!
E eu da minha cadeira, fulminado pôr uma paixão instantânea, desde então
Sabia: que para sempre dos meus pensamentos ela não sairia... Eu tinha certeza!

Maravilhado com sua figura etérea, embevecido com tanto esplendor, enternecido com a graciosidade de seus movimentos, num forte transe na platéia fiquei.
Até que de repente no meu coração... Uma dor!
Eu era parte do seu público apenas! Um anônimo! Não pertencia a seu mundo...

E pôr mais que eu a amasse e desejasse... Esse fato entre nós iria se impor!

Incitado pela paixão, tinha alguma coisa que fazer. Entrar para o mundo dela pareceu-me então uma boa solução...
Mas como?
Como de um momento para o outro, eu poderia chamar-lhe a atenção?
Como quem não arrisca não petisca... Desse momento em diante decidi... Também um dia, eu seria um artista!

Hoje oscilante sobre uma linha retesada entre as forças do amor e a da razão, percorro vacilante meditando e calculando a cada passo... Ora pendendo para o lado do amor que puxa sutilmente para um mundo duvidoso de fantásticas fantasias, ora pendendo para o lado da razão que prende de volta a realidade ainda que sofrida desta vida hoje a mim tão vazia!

Pôr ironia eu hoje não sou mais um mero espectador deste circo que me trouxe tantas alegrias... Hoje visto uma fantasia... Sou um artista! Esqueço minha identidade... Sou um equilibrista!
Trabalho num perigoso número todos os dias, mas inconformado de ter de trilhar neles a mesma rotina...
De lutar a cada passo contra e a favor de forças de resoluções opostas. Resoluções essas que para qualquer lado conseguir me puxar... Inevitavelmente me destruirão.

Tornei-me equilibrista após descobrir que todos esses sentimentos que naquele dia em mim despontou, para sempre terei de mantê-lo no anonimato.
Pois aquela artista que eu tanto amo... 
Tardiamente descobri que jamais ela me amaria... Mesmo agora eu fazendo parte do seu mundo.

Quando naquele dia eu resolvi ser um artista, nunca poderia imaginar que entre tantos papéis, eu viria a ter... Logo; o de equilibrista!

Pois amar uma mulher sem ser correspondido e pôr isso passar a lutar entre o desejo de todo esse sentimento a ela confessar... E da negação do mesmo imposto pela razão à custa do próprio equilíbrio mental...

... Mais do que ser equilibrista ou mesmo artista!

É preciso antes de tudo: ser um louco, inconseqüente ou mesmo:Um patético e pobre masoquista!


MOVA 10/10/1984

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